Polinizando literatura
Dessa vez me deu vontade de falar de literatura. Talvez porque seja minha leitura favorita. Talvez porque estejamos precisando de beleza. Talvez porque a literatura salve.
Minha vida de leitora começou cedo. Fui pra escola aos 4 anos, mas já tinha aprendido a ler assistindo Vila Sésamo. E amei cada dia de aprender naquela primeira escola, cuja dona era a Tia Lili, que teve paralisia infantil e usava aquelas ferragens que compensavam uma perna mais curta que a outra. Eu amava aquela mulher, que andava pela escola toda, cheia de energia e com um sorrisão.
Não tinha tanto livro infantil, não tinha tanto livro em casa, mas depois tinha biblioteca, e coleção Vaga-Lume, e os livros da Melhoramentos, e os mistérios de Stela Carr e Marcos Rey. São memórias tão vivas que, ao abrir a editora, sabia que teria um catálogo de infantis. Tenho e amo.
A literatura para adultos, porém, já era um passo enorme. Tinha medo, confesso. Mas as coisas vieram. Originais chegaram e eu me apaixonei. Propostas vieram e eu topei. É um pouco do jeito que faço as coisas, um tanto de paixão, um pouco de planejamento, alguns tropeços e muito entusiasmo.
E, em 2020, chegaram os primeiros lançamentos, que tiveram início com duas autoras jovens e potentes. O Desmemória, de Thalita Coelho é um livro que você devora, tem amor, tem fantasia, linguagem leve e reflexões profundas. Um livro de hoje. Já o Flor de gume, da Monique Malcher, entra pela pele, é livro-corpo, camada basal. Contos de vida e morte, de ancestralidade e descendência. Um livro de sempre.
Essa literatura de mulher que publicamos é assim, um pé no agora, o outro no antes. Cabeça, coração, pele. Amor que dói e grita, que abraça e ri, como a Gabriela Soutello em Ninguém vai lembrar de mim, como a Claudia Pucci em Canto da Terra, como a Lucila Mantovani em Com o corpo inteiro, como a Célia Alves em O que vou dizer em casa?.
Nunca consigo falar de tudo que eu queria, nem relei na poesia... Ouço vozes me dizendo que ninguém vai ler isso até o fim. Mas eu escrevo, coisa que não fazia há um tempo, sabe? Enfim, vou jogando aqui esse pólen, que já está sendo distribuído por um novo tipo de abelha: a Jandaíra. Tudo mudando por aqui, um tanto de adubação, um tanto de poda.
É isso. Por hoje.
por Lizandra Magon de Almeida: editora, tradutora, repórter e poeta, nessa ordem. Adora cozinhar, mas gosta ainda mais de comer e conversar em volta da mesa. Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP, é diretora editorial e proprietária da Editora Jandaíra.