Minha vida desde o Meninas que Escrevem
por Tainá Amador Junqueira
Há um ano, um amigo me ligou para me parabenizar pelo livro Meninas que Escrevem quando soube que eu, Tainá, era uma das autoras da coletânea e perguntou do que se tratava, se seriam “histórias de amorzinho”. Eu dei um riso alto imaginando o que ele pensaria ao ler os contos presentes naquele livro, que eram sobre tudo, menos amorzinho ou qualquer ideia romantizada do que uma menina escreveria. Foi ali que percebi a nossa missão: levar esse livro o mais longe possível, para ser lido cada vez por mais pessoas que percebessem e se tocassem que sim, meninas podem falar de tudo.
À medida que o livro ia se espalhando, essa ideia se tornava cada vez mais nítida: o choque e a admiração das pessoas ao se depararem com uma escrita tão madura e profunda de garotas tão jovens eram materializados com mensagens, conversas e áudios enormes, emocionados e comovidos. Fizemos história. E então a nossa missão ia sendo cumprida aos poucos: corações iam sendo tocados, mentes iam sendo abertas e novas concepções iam sendo formadas.
Meninas que Escrevem são muito maiores do que meninas que simplesmente escrevem, elas conectam, inspiram, aprendem, ensinam, realizam. Meninas são poderosas. Essa é mais ou menos a mensagem escrita na orelha dessa obra - ou pelo menos é o que eu levo comigo, o que aprendi com todo esse processo. A cada nova leitura que eu fazia dos contos do livro, entendia a força que continha ali dentro daquelas páginas, aquelas palavras escritas por meninas que contam não uma história qualquer, mas a nossa própria história - em que somos, pela primeira vez, as protagonistas. É o nosso dever ocupar esse espaço para mudar as referências literárias, para lermos cada vez mais mulheres, para colocar, de fato, nossa voz no mundo, contar histórias por pontos de vista nunca antes pensados, passando apenas pelo filtro da poesia, denunciando as mazelas da sociedade, traduzindo sentimentos inefáveis, instigando consciência crítica, colocando pingos de arte nas mais miseráveis realidades. Este é o trabalho de escritores e é algo poderoso demais.
Quando digo que o Meninas que Escrevem é a realização de um sonho, não estou exagerando. Infelizmente são poucos aqueles que veem livros e textos publicados como grandes acontecimentos. Mas são. Principalmente para meninas tão jovens. Ter, hoje, o livro em minhas mãos com um pouquinho de mim ali é extremamente encorajador. Foi com ele que me entendi escritora, que fui com minha ousadia arriscar esse caminho de escrever rabiscos em post-its e últimas páginas de cadernos escolares. Aperfeiçoando as palavras escolhidas, mudando a vírgula pelo ponto ou talvez o ponto pela vírgula, lendo, me inspirando em Clarice, Conceição, Lygia, Djamila, e tantas mais que compartilham minha estante com o Meninas que Escrevem e com as meninas que escrevem a vontade de falar e serem ouvidas.
Neste um ano após o lançamento do livro, mais um texto meu foi publicado em uma antologia, em outro projeto tão incrível quanto esse, fui selecionada para participar de um Curso Livre de escrita criativa e nunca gostei tanto das aulas de redação, literatura ou gramática. É que de repente as palavras pareceram infinitas, cheias de possibilidades e poder. As palavras se tornaram minhas porta vozes de opiniões, ideias e sentimentos. A escrita tem poder, e é por isso que mantinham as mulheres longe dela, mulheres poderosas são temidas - e devem ser. Não conhecem o barulho que somos capazes de fazer - e fizemos barulho. Um coro de 17 vozes de meninas que transformam e inspiram o outro e a nós mesmas a irmos mais longe, e vamos. Novas Meninas que Escrevem estão por vir.
Este é só o começo da nossa história.
Tainá Amador Junqueira tem 17 anos e é autora de Vida de Maria, conto integrante da coletânea Meninas que Escrevem, publicada há um ano, na primavera de 2020 pela editora Jandaíra.