29/02/2024

Confira a orelha do livro “Uma carta tão longa”, de Mariama Bâ

Mariama Bâ é uma escritora senegalesa que nasceu em 1929 e órfã de mãe, foi criada pelos avós, de quem recebeu educação tradicional e mulçumana durante a infância. Ela foi incentivada pelo pai e por uma diretora da escola em que estudou a se formar e posteriormente atuou como professora. Seu romance, Uma carta tão longa, publicado pela primeira vez em 1979, chega o Brasil pela primeira vez publicado pela Jandaíra, com tradução e notas de Marina Bueno de Carvalho. 

Para que o público possa conhecer mais da obra, disponibilizamos aqui o texto de orelha escrito por Cidinha da Silva, que também é autora #Parem de nos matar e Kuami. 

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Neste Uma carta tão longa, da autora senegalesa Mariama Bâ, publicada no Brasil pela primeira vez, conheceremos a história de Ramatoulaye, narrada por ela mesma e, tão importante quanto esse protagonismo, acessaremos um mundo desconhecido, por meio de sua criticidade acurada e ácida. 

Uma carta é escrita para Aïssatou, sua melhor amiga, que vive com os três filhos nos Estados Unidos, depois de ter-se divorciado do marido Mawdo, um médico sensível e bem-sucedido, por não aceitar o segundo casamento dele, permitido pelo sistema poligâmico e forjado pela sogra que a odeia.  

O mote inicial da conversa escrita é a morte de Modou, marido fanfarão de Ramatoulaye, uma espécie de “sindicalista de resultados”. Entretanto, toda a vida da missivista é passada em revista durante a escrita. Uma leitura dos dois casais e suas respectivas separações por divórcio e falecimento coloca as duas mulheres, amigas desde a juventude, no centro da narrativa. 

Aïssatou recebe as notícias e apreciações de Ramatoulaye no silêncio do acolhimento de uma carta. A amiga tece comentários críticos em relação a certos costumes tradicionais que camuflam a hipocrisia das relações humanas competitivas. A narradora nos mostra, desde dentro, os descalabros da poligamia tradicional, sistema de relacionamento afetivo-sexual em que as mulheres sempre perdem, sobre o qual sabemos pouco no Ocidente, principalmente quando contado pelas mulheres.  

Uma carta tão longa, além de apresentar uma trama tocante e bem construída, nos oferece dimensões variadas de um universo distante e ignorado, no caso, a transição entre dois períodos históricos num país do continente africano, de um lado, a dominação colonial, e do outro, a independência com todas as complexidades inerentes ao processo político, cultural e econômico de libertação do jugo colonial. O Senegal, diante da possibilidade de independência imediata depois da guerra da Argélia, proposta pelo governo francês (1958), inicialmente optou por tornar-se Estado-membro da Comunidade Francesa, com autonomia limitada e dependência da França em temas políticos, diplomáticos e militares. Só em 1960, o país reivindicaria a independência completa. 

No período em que o livro transcorre, ouvimos pela voz da narradora e dos conflitos na educação de seus doze filhos, ecos dos modos de vida tradicional versus demandas da modernidade nos anos 1960; gritos da pressão por liberdades individuais, além dos ruídos, às vezes estrondosos, da luta interna travada por Ramatoulaye para ser autônoma e manter seus princípios éticos depois da viuvez.  

Mariama Bâ constrói uma história que nos instiga a saber mais do mundo no qual ela se passa, enquanto acreditamos, à primeira vista, tratar-se apenas de uma boa história. 

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Confira também em nosso Facebook os registros do evento de lançamento que aconteceu em São Paulo, na Livraria Megafuna, no dia 25 de julho de 2023, Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, que contou com uma apresentação do músico senegalês Saliou Seck e uma conversa entre a tradutora Marina Bueno de Carvalho e a pesquisadora de literaturas africanas Maria Carolina Casati, com mediação da criadora de conteúdo Maria Ferreira. 

 

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