Cinco perguntas com Márcia Wayna Kambeba
por Luana Lira
Na inauguração do nosso quadro de entrevistas rápidas e divertidas, no qual faremos apenas cinco perguntas para os entrevistados, temos como convidada especial Márcia Wayna Kambeba, escritora de 2 livros da Janda - Saberes da Floresta e Ay Kakyri Tama.
Só para vocês terem ideia do mulherão com quem estamos falando, olha só a minibio dela: "Márcia é indígena e nasceu na aldeia Belém do Solimões, do povo Tikuna. É mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), escritora, poeta, compositora, fotógrafa e ativista. Ela percorre todo o Brasil e a América Latina com seu trabalho autoral, discutindo a importância da cultura dos povos indígenas."
Sem mais delongas, vamos à entrevista!
Jandaíra: Márcia, se você pudesse se descrever em apenas uma frase, qual seria?
Márcia: Resistência e continuidade de um povo e de uma luta.
J: Você já é autora de 2 livros da Editora, sabemos que sua escrita é linda de morrer, mas gostaria de entender mais quando o seu envolvimento com a escrita e arte em geral começou.
M: Meu contato com a escrita começou na aldeia, ainda menina, ouvido minha avó Assunta, eu recitava o que ela escrevia. E quando fiquei com uma idade de 14 anos comecei a escrever meus próprios poemas. Tive um incentivo grande na escola pois a diretora era poeta e recitava pra gente poemas lindos, nos motivando a fazer poesias e arte. Ali entendi que a arte e educação andam juntas. Depois do mestrado em Geografia vi que poderia fazer da pesquisa um livro poético que tivesse um olhar de cunho indígena e ambiental, porque para nós, indígenas, não há separação nessa relação com a natureza. Assim saiu o Ay Kakyri Tama, a primeira versão de forma independente. Depois, mais tarde, a Jandaíra me convida para reeditar em um novo formato. Hoje como educadora faço o mesmo nas minhas aulas uso a poesia e a música - elas são duas artes que carrego para dar aula nas aldeias - e deixo meus alunos produzirem suas próprias poesias para sentir esse prazer de dizer: "Eu sou poeta de minha própria história".
J: Qual é o seu maior objetivo quando escreve?
M: Meu maior objetivo do ato de escrever é convidar as pessoas a um pensar decolonial relacionado a questão indígena e ambiental. Um chamado a um pensar crítico reflexivo do nosso lugar no planeta como natureza, de buscar essa relação intrínseca com tudo que é natureza e que nos rodeia. Também para um entendimento relacionado aos povos indígenas, nossa presença na cidade - entendendo que não deixamos de ser quem somos pelo fato de sair da aldeia e conviver com uma nova territorialidade em um outro lugar e aprender a conviver. Essa é a missão do "Ay Kakyri Tama: Eu moro na cidade". Ter identidade é intrínseco ao ser humano e nós, povos indígenas, queremos mostrar que não existe uma "cara de índio" mas uma identidade, um pertencimento que nos torna nação.
M: Minha inspiração surge de muitos lugares, de muitos olhares, de um pensar reflexivo de quem somos, onde estamos e como vivemos. Surge de uma visita a aldeia, das perguntas que vem do público leitor de meus poemas, de palavras pejorativas e também sobre nossa presença na cidade e aldeia. Busco refletir de forma crítica e com amor chamando os leitores para essa roda decolonial. Surge da identidade e territorialidade que vejo na aldeia e do sentir a natureza num apelo ao mundo para pensarmos juntos nossa pegada ecológica no planeta.
M: Minha mensagem aos leitores e leitoras é de gratidão, de um pedido de que leiam mais literatura indígena pois é nela e por ela que colocamos a nossa força ancestral no ato da escrita. É nela que colocamos e desenhamos nossa memória, nossa história, nosso próprio ser vai junto nessa escrita e ela é, ao menos a minha, carregada de amorosidade e afeto - penso sempre no leitor enquanto escrevo. Fico pensando: será que vão gostar ou não (risos). Mas confio que a poesia é uma linda ferramenta que cada vez ganha mais espaço e se propõe a alcançar muitas pessoas por meio de suas rimas. Gratidão a todos e todas por lerem meus livros e suas críticas me motivam a escrever todos os dias.,