Livros que causam, livros com causa
29/02/2024

Cinco perguntas com Márcia Wayna Kambeba

por Luana Lira

 

Na inauguração do nosso quadro de entrevistas rápidas e divertidas, no qual faremos apenas cinco perguntas para os entrevistados, temos como convidada especial Márcia Wayna Kambeba, escritora de 2 livros da Janda - Saberes da Floresta e Ay Kakyri Tama.

Só para vocês terem ideia do mulherão com quem estamos falando, olha só a minibio dela: "Márcia é indígena e nasceu na aldeia Belém do Solimões, do povo Tikuna. É mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), escritora, poeta, compositora, fotógrafa e ativista. Ela percorre todo o Brasil e a América Latina com seu trabalho autoral, discutindo a importância da cultura dos povos indígenas."

Sem mais delongas, vamos à entrevista!

 

Jandaíra: Márcia, se você pudesse se descrever em apenas uma frase, qual seria?

Márcia: Resistência e continuidade de um povo e de uma luta. 

 

J: Você já é autora de 2 livros da Editora, sabemos que sua escrita é linda de morrer, mas gostaria de entender mais quando o seu envolvimento com a escrita e arte em geral começou.

M: Meu contato com a escrita começou na aldeia, ainda menina, ouvido minha avó Assunta, eu recitava o que ela escrevia. E quando fiquei com uma idade de 14 anos comecei a escrever meus próprios poemas. Tive um incentivo grande na escola pois a diretora era poeta e recitava pra gente poemas lindos, nos motivando a fazer poesias e arte. Ali entendi que a arte e educação andam juntas. Depois do mestrado em Geografia vi que poderia fazer da pesquisa um livro poético que tivesse um olhar de cunho indígena e ambiental, porque para nós, indígenas, não há separação nessa relação com a natureza. Assim saiu o Ay Kakyri Tama, a primeira versão de forma independente. Depois, mais tarde, a Jandaíra me convida para reeditar em um novo formato. Hoje como educadora faço o mesmo nas minhas aulas uso a poesia e a música - elas são duas artes que carrego para dar aula nas aldeias - e deixo meus alunos produzirem suas próprias poesias para sentir esse prazer de dizer: "Eu sou poeta de minha própria história". 

 

J: Qual é o seu maior objetivo quando escreve?

M: Meu maior objetivo do ato de escrever é convidar as pessoas a um pensar decolonial relacionado a questão indígena e ambiental. Um chamado a um pensar crítico reflexivo do nosso lugar no planeta como natureza, de buscar essa relação intrínseca com tudo que é natureza e que nos rodeia. Também para um entendimento relacionado aos povos indígenas, nossa presença na cidade - entendendo que não deixamos de ser quem somos pelo fato de sair da aldeia e conviver com uma nova territorialidade em um outro lugar e aprender a conviver. Essa é a missão do "Ay Kakyri Tama: Eu moro na cidade". Ter identidade é intrínseco ao ser humano e nós, povos indígenas, queremos mostrar que não existe uma "cara de índio" mas uma identidade, um pertencimento que nos torna nação. 

 

 
J: De onde surge inspiração para escrever poemas tão fortes, sentimentais e tocantes quanto os de Ay Kakyri Tama?
M: Minha inspiração surge de muitos lugares, de muitos olhares, de um pensar reflexivo de quem somos, onde estamos e como vivemos. Surge de uma visita a aldeia, das perguntas que vem do público leitor de meus poemas, de palavras pejorativas e também sobre nossa presença na cidade e aldeia. Busco refletir de forma crítica e com amor chamando os leitores para essa roda decolonial. Surge da identidade e territorialidade que vejo na aldeia e do sentir a natureza num apelo ao mundo para pensarmos juntos nossa pegada ecológica no planeta. 

 

 
J: Agora estamos em uma pandemia e eu sei que o contato com os leitores está bem restrito. Mas queria saber se você tem alguma mensagem para passar para esse pessoal tão carinhoso que lê suas obras com tanta admiração, como eu (risos).
M: Minha mensagem aos leitores e leitoras é de gratidão, de um pedido de que leiam mais literatura indígena pois é nela e por ela que colocamos a nossa força ancestral no ato da escrita. É nela que colocamos e desenhamos nossa memória, nossa história, nosso próprio ser vai junto nessa escrita e ela é, ao menos a minha, carregada de amorosidade e afeto - penso sempre no leitor enquanto escrevo. Fico pensando: será que vão gostar ou não (risos). Mas confio que a poesia é uma linda ferramenta que cada vez ganha mais espaço e se propõe a alcançar muitas pessoas por meio de suas rimas. Gratidão a todos e todas por lerem meus livros e suas críticas me motivam a escrever todos os dias. 
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É isso por hoje, pessoal! Agradecemos demais à disponibilidade da Márcia para responder nossas questões e também a vocês por lerem essa entrevista até o fim. Agora contem para a gente aqui nos comentários o que acharam e qual deveria ser a próxima autora entrevistada!
 
Beijos e até mais...
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Luana Lira é escritora, jovem líder, amante de gatos, futura jornalista e estudante da UFMG; nem sempre na mesma ordem e muito menos ao mesmo tempo. Integra a equipe da Editora Jandaíra desde 2021. 
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